Tadinho do Zé Gotinha

Brasil

por Fernando Duarte

Tadinho do Zé Gotinha

Foto: Isac Nóbrega/PR

O Zé Gotinha usava máscara ontem, durante a apresentação do plano nacional de imunização contra o coronavírus. Símbolo das campanhas de vacinação no Brasil desde a década de 1980, o personagem povoa o imaginário de crianças e adultos, por tratar de maneira serena e lúdica a necessidade de combater doenças através da prevenção. Durante o ato no Palácio do Planalto, caso tivesse expressões faciais, o Zé Gotinha estaria ligeiramente constrangido.

 

“Para que ansiedade?”, questionou o pseudoministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sobre as razões pelas quais a sociedade brasileira clama por um plano de vacinação para prevenir a Covid-19. Quando ouvi, pensei em algumas respostas, mas nenhuma seria publicável, devido aos palavrões que viriam acompanhadas. Após ficar meses como interino, Pazuello não entendeu o papel do ministério mesmo com a posse oficial, razão pela qual o pseudo lhe cabe bem. É uma maneira cortês de não chamá-lo de fake. A angústia que o general não entende é o lamento de mais de 183 mil vidas perdidas na pandemia.

 

O tal plano nacional de imunização prevê, inclusive, a possibilidade da Coronavac ser utilizada no país. A vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan e a farmacêutica Sinovac foi alçada a condição de polêmica pelo debate burro entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria. As idas e vindas, com trocas de farpas e acusações entre os dois, foram o jogo de cena perfeito para as respectivas claques, enquanto parte dos brasileiros assistia atônita outros países iniciando a vacinação da população.

 

A postura descrente de Bolsonaro, inclusive, gerou uma reação muito ruim. Cresceu o número de pessoas que não querem tomar a vacina. Já basta um universo permeado de notícias ruins, agora somos obrigados a lidar com a negação que desestimula a imunização contra uma doença que pode ser mortal. É exigir muito altruísmo do caboclo para ele não perder as estribeiras e desejar que só seja vacinado quem ainda mantém o mínimo de discernimento.

 

O Ministério da Saúde ainda afirmou que será necessário um “termo de consentimento” para quem optar por ser vacinado durante a eventual autorização emergencial do imunizante. Se o uso ainda está sob investigação – o que é natural dada a velocidade com que foi desenvolvida -, é um acordo tácito que efeitos adversos podem acontecer. Até bula de remédios já consolidados tem esse item, por que um produto ainda em desenvolvimento não teria?

 

Eu, por até aqui não pertencer a nenhum grupo de risco, vou aguardar sentadinho com a caneta na mão onde assina o tal termo. Para voltar à normalidade, até na testa eu tomo essa vacina. Seja ela inglesa, americana, chinesa, russa ou até brasileira. O que importa é sobreviver à pandemia. E, diferente do Planalto, não pretendo constranger o Zé Gotinha. ‘Vem ni mim’!

 

Este texto integra o comentário desta quinta-feira (17) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: SpotifyDeezerApple PodcastsGoogle Podcasts e TuneIn.

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