Flerte com centrão contraria pregação de 2018, mas não parece ser problema para Bolsonaro

Brasil

por Fernando Duarte

Flerte com centrão contraria pregação de 2018, mas não parece ser problema para Bolsonaro

Foto: Alan Santos/ PR

A aproximação de Jair Bolsonaro com o centrão deveria pôr um fim nessa dicotomia esdrúxula entre “velha” e “nova” política. Porém, como não creio em unicórnios, consigo admitir facilmente que não vai acontecer. Para quem acreditou no conto da carochinha de que a eleição de 2018 poderia ser um divisor de águas no sentido da mudança, deve ser difícil sair do mundo de Alice e enxergar a realidade.

 

O presidente Jair Bolsonaro iniciou conversas para lotear cargos públicos de segundo e terceiro escalão. Até aqui, ele nega essas negociações, porém caciques como Roberto Jefferson, do PTB, e Paulinho da Força, do SD, trouxeram a público as conversas para ampliar os espaços dos respectivos partidos na máquina pública federal. O PL, com Valdemar Costa Neto, também pode entrar na conta dessa divisão. Fora outras legendas que orbitam esse núcleo de apoio a Rodrigo Maia na presidência da Câmara dos Deputados e que devem flertar cada vez mais com o bolsonarismo.

 

Política é, antes de mais nada, uma atividade pragmática. Tanto que as conversas com siglas dos mais diversos espectros acontecem sempre que um gestor chega ao poder. No plano federal, ganhou o apelido de presidencialismo de coalisão, mas o mesmo aparece em outras esferas, ainda que não tenha o mesmo destaque. Vide as conversas que Jaques Wagner e Rui Costa tiveram com o ex-carlista Otto Alencar, por exemplo, ou a incorporação do PP de João Leão. Em Salvador, ACM Neto não chega a se aproximar da esquerda clássica, mas consegue manter diálogos com legendas que originalmente estariam à esquerda, como o PDT.

 

A diferença entre esses exemplos e Bolsonaro é que o presidente negou que fosse recorrer aos acordos (escusos?) como plataforma de construção de uma maioria no parlamento. Ultrapassando em muito a tênue linha da moralidade. Tanto que iniciou, sem muito pudor, o loteamento de cargos tão criticado nos tempos da dupla Lula e Dilma, continuado por Temer e que nasceu junto com o Brasil. O chefe do Executivo federal é, na verdade, uma caricatura daquilo que ele propôs. Mesmo assim, será comum ver quem faça malabarismos retóricos para defendê-lo.

 

A velha política sempre esteve viva. Tais quais as velhas raposas agora chamadas por Bolsonaro como uma tábua de salvação em meio ao esfacelamento de uma base que nunca existiu. A esperança, definitivamente, não venceu o medo. No máximo se incorporou a ele.

 

Este texto integra o comentário desta quarta-feira (29) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM, Alternativa FM Nazaré e Candeias FM.

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