Após polêmica, Janot reaparece em silêncio e lança livro em evento esvaziado

Brasil

Na noite desta segunda-feira (7), o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot autografou exemplares de “Nada Menos que Tudo”, o livro de memórias feito por ele em depoimento aos jornalistas Guilherme Evelin e Jailton Carvalho. Poucas pessoas formaram uma fila para pegar a rubrica do ex-procurador, na Livraria da Vila, nos Jardins, bairro nobre da capital paulista. A maioria dos presentes era de jornalistas, seguranças e funcionários da editora Planeta, que editou o livro. Janot chegou atrasado. A sessão de autógrafos foi marcada para as 19h, mas ele se sentou na cadeira no fundo da livraria 21 minutos depois. Às 19h43 já não havia mais ninguém na fila. Depois, alguns leitores foram chegando a conta-gotas. Não esteve presente nenhuma grande autoridade do Judiciário ou mesmo do Ministério Público Federal, que ele comandou entre 2013 e 2017. No andar de cima da livraria, o lançamento de um livro de direito empresarial juntou mais gente.

Antes das 20h todos os exemplares de “Direito empresarial – Estudos Jurídicos em Homenagem a Maria Salgado”, organizado por Graziela Amaral e Luciana Santos, já tinham sido vendidos. Já “Nada Menos que Tudo” teve 43 exemplares vendidos —de 550 à venda—, e não havia mais gente com ele nas mãos naquele horário. É a primeira aparição de Janot após a polêmica envolvendo entrevistas que ele deu para divulgar a obra. Desta vez, ficou calado. “Hoje é só palavra escrita”, limitou-se a dizer. Ele recusou-se a esclarecer o tumulto causado pela declaração de que planejou assassinar o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e se matar em seguida. Teria entrado armado na corte e só não puxou o gatilho porque o “dedo indicador ficou paralisado”, disse à Folha. No livro ele conta o episódio de maneira resumida, sem nomes ou detalhes.

A motivação seria um suposto comentário de Gilmar de que a filha do ex-procurador teria ligações pouco republicanas com empresas da Lava Jato. Letícia Ladeira Monteiro de Barros é advogada e representara a empreiteira OAS no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). “Num dos momentos de dor aguda, de ira cega, botei uma pistola carregada na cintura e por muito pouco não descarreguei na cabeça de uma autoridade de língua ferina que, em meio àquela algaravia orquestrada pelos investigados, resolvera fazer graça com minha filha”, diz Janot na obra. “Só não houve o gesto extremo porque, no instante decisivo, a mão invisível do bom senso tocou meu ombro e disse: não”.

Em entrevista à Folha, ele afirmou que seu plano era matar Gilmar antes do início da sessão no STF. “Na antessala, onde eu o encontraria antes da sessão”, afirmou. O ex-procurador disse que não entrou no plenário do tribunal armado. Em entrevistas à revista Veja e ao jornal O Estado de S. Paulo, Janot acrescentou que pretendia se suicidar depois de matar Gilmar. O site jurídico Jota, porém, mostrou que, no dia em que Janot diz ter entrado armado no STF para matar Gilmar Mendes, o então procurador-geral não estava em Brasília, mas em Minas Gerais.

No dia 27 de setembro, Janot foi alvo de busca e apreensão determinada pelo Supremo Tribunal Federal. Também ficou determinado que ele mantenha pelo menos 200 metros de distância dos ministros do Supremo. Na operação, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, foram apreendidos uma arma, um tablet e um celular. A ação se deu no âmbito do inquérito que investiga fake news, ameaças e ofensas a membros da corte e seus familiares. Mais cedo, no mesmo dia, Gilmar havia encaminhado um requerimento a Moraes pedindo providências contra o ex-procurador-geral da República. Gilmar chamou Janot de “potencial facínora” e defendeu mudanças no sistema de escolha de ocupantes do cargo.

Janot também é cobrado a explicar por que não denunciou políticos que foram até ele pedir que não investigasse o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), conforme relatou em seu livro. Um deles seria o ex-presidente Michel Temer (MDB), na época vice de Dilma Rousseff (PT). Janot afirma ter reagido com indignação ao pedido, usando até palavrões para responder a Temer, mas não explica por que não tomou nenhuma providência na época para expor a suposta tentativa do vice-presidente de se intrometer no seu trabalho. Embora planejar um ilícito sem concretizá-lo não configure crime, o caso de Janot pode ter implicações disciplinares e civis, pois ele era da ativa e chefiava a PGR (Procuradoria-Geral da República) à época dos fatos. O ex-procurador corre o risco de perder sua aposentadoria. O subprocurador da República Moacir de Morais entrou com pedido para que o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) investigue sua conduta em razão da declaração sobre Gilmar.

Nesta terça-feira (8), haverá sessão de autógrafos em Brasília. Pessoas próximas Janot disseram que esperam mais pessoas na livraria da capital federal.

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