‘Não existe maconha medicinal’, critica psiquiatra ao associar erva a ‘ficar louco’

Bahia

por Jade Coelho

'Não existe maconha medicinal', critica psiquiatra ao associar erva a 'ficar louco'

Foto: Justin Sullivan / Getty Images

O uso contínuo e excessivo de Cannabis pode deixar uma pessoa louca, segundo a presidente da Associação de Psiquiatras da Bahia Miriam Elza Gorender. Para ela, “louco fica quem pode e não quem quer”. “O que as pessoas falam de louco, que é o psicótico, só fica mesmo quem tem a pré-disposição ou quem fuma muita maconha”, garantiu a especialista, ao negar a existência de maconha medicinal.

 

A Cannabis foi comparada pela psiquiatra ao veneno de jararaca. A explicação da médica é de que apenas algumas substâncias da erva podem ser utilizadas como medicinais. Para fortalecer o argumento Miriam citou o captopril, medicamento utilizado no tratamento da pressão alta e extraído do veneno da espécie de serpente. “Alguém prescreve veneno de jararaca? Do mesmo jeito eu jamais prescreveria maconha”, justificou.

 

A médica defende o uso de Canabidiol, substância encontrada na erva e com efeito benéfico para tratamento de algumas doenças mentais, mas ela explica que apenas a produção controlada e seguindo rigorosos protocolos de segurança resulta em uma erva com quantidades realmente benéficas de Canabidiol. “Essa maconha que traficam tem praticamente zero de Canabidiol. Então não adianta você comprar maconha, plantar seu pé e fazer um chá, porque vai ter zero Canabidiol. Agora vai ter um teor gigante de tetrahidrocanabinol, que é o que pode lhe deixar louco para o resto da vida”, ponderou.  

 

A presidente da Associação de Psiquiatras da Bahia defende a intensificação de pesquisas e estudos sobre os efeitos, dosagens ideais de Canabidiol, assim como a forma de preparo, composição e efeitos colaterais.

 

“A maconha tem prejuízo demais para a gente dizer que ela é medicinal. Ela tem moléculas e substâncias que você pode extrair, inclusive várias não da Cannabis sativa, mas de outras espécies de Cannabis”, pontuou Miriam Gorender, que ainda destacou que atualmente cerca de 80 canabinóides vem sendo estudados.

 

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está em um processo de julgamento da proposta que libera o plantio de Cannabis no Brasil para pesquisa e produção de medicamentos. Apresentada em junho, a proposta prevê que o aval ao plantio possa ser dado para empresas interessadas em pesquisa e produção de medicamentos, mediante cumprimento de regras de segurança.

 

Atualmente o plantio de maconha é proibido no Brasil. Desde 2006, no entanto, a lei 11.343 prevê a possibilidade de que a União autorize o plantio “para fins medicinais e científicos em local e prazo predeterminados e mediante fiscalização”.

 

O diretor-presidente da Anvisa, William Dib, constantemente tem rebatido críticas do governo federal sobre a liberação (lembre aqui). Em entrevista à Folha de S. Paulo, Dib declarou que está otimista sobre a aprovação da medida, mesmo tendo ciência de que enfrentará resistências. Ele ainda assegurou ao veículo que a liberação desses produtos oferecerá baixo risco sanitário ao Brasil. “O pior que vai acontecer é ele ser inócuo”, disse (veja mais aqui e aqui).

 

Na Bahia, o presidente da Associação para Pesquisa e Desenvolvimeno da Cannabis no Brasil (Cannab), Leandro Stelitano, acredita que o embate sobre a regulamentação do plantio de Cannabis sativa para fins medicinais no Brasil, protagonizado pela Anvisa e pelo Governo Federal, prejudica as famílias de baixa renda com pacientes acometidos por doenças como autismo, epilepsia refratária de difícil controle, autismo, Parkinson e esclerose múltipla, que poderiam estar sendo beneficiados com medicação à base de CBD e THC. “Isso é que está atrapalhando a regulamentação sair mais rápido. Porque o ministro [da Cidadania, Osmar Terra] dá umas opiniões sem nenhum embasamento, apesar de ser médico”, argumentou Stelitano (leia mais aqui).

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